segunda-feira, 26 de setembro de 2011

'Cristina Kirchner não está capacitada para governar', diz Duhalde


BUENOS AIRES - Fim de tarde frio e chuvoso na província de Buenos Aires. Enquanto a presidente Cristina Kirchner, a grande favorita para as eleições do próximo dia 23, encerra sua participação na Assembleia Geral da ONU, Eduardo Duhalde, um de seus adversários, termina de gravar os primeiros spots da nova etapa da campanha eleitoral. Apesar de ter ficado em terceiro nas primárias de agosto, com 12,12%, ele está confiante.
O ex-presidente e cacique peronista, que em 2003 foi o artífice da chegada de Néstor Kirchner ao poder, insiste em denunciar graves irregularidades nas primárias e em afirmar que "Cristina não está capacitada para governar". Admirador do Brasil, diz que não ficará zangado com Lula se o ex-presidente vier a Buenos Aires para respaldar a campanha de Cristina, como anunciou a Casa Rosada. "É business", explica Duhalde.
O senhor denunciou irregularidades nas primárias?
EDUARDO DUHALDE: Sim, gravíssimas. Na província de Buenos Aires essas irregularidades envolveram 12% dos votos. Nós teríamos superado os 20%.
O que foi mais difícil de digerir: o terceiro lugar ou os mais de 50% de votos da presidente?
DUHALDE: O governo adotou duas decisões: a presidente tinha de alcançar mais de 50%; e ninguém deveria ter motivos para comemorar na oposição. O governo não queria um segundo colocado bem posicionado.
Como explica que mais de 50% votaram numa pessoa que, segundo sua avaliação, não está capacitada para governar?
DUHALDE: A América do Sul não tinha uma década de crescimento como esta desde a independência de nossos países. Por mais que um presidente governe mal, sempre ocorrem movimentos, negócios, as pessoas gastam. E o governo está financiando o consumo. No futuro teremos sérias dificuldades, porque estamos criando um clima de consumo e investimentos que não é sustentável.
O senhor chegou a dizer que abandonava a política...
DUHALDE: Sim, afirmei isso. E abandonei, mas a questão é que quero ajudar e percebo que estamos no caminho errado.
A morte de Kirchner fortaleceu a candidatura de Cristina?
DUHALDE: O velório foi uma obra de arte. Foi o único velório no qual não houve discursos, não se viu o morto, era ela sozinha. Estava tudo preparado.
Depois da morte, a presidente continuou se referindo sempre a Kirchner em seus discursos...
DUHALDE: Sim, na verdade, isso não lhe convém, porque Kirchner não é querido. Ele despertava medo, não carinho.
O governo confirmou a presença de Lula na reta final da campanha. O que acha?
DUHALDE: É típico dos presidentes brasileiros, pensam e atuam em função dos interesses do Brasil. Um dia perguntei a Lula por que dizia que o presidente da Venezuela (Hugo Chávez) era o melhor da História do país. Ele disse uma coisa, que depois me foi reiterada quando perguntei sobre os iranianos. Lula riu e o chanceler (Celso Amorim) respondeu: "Business" (risos). Claro, se convém ao Brasil, vão dizer o que tiverem de dizer.
O apoio a Cristina também se deve a "business"?
DUHALDE: É claro! Temos uma dependência grande em relação ao Brasil. Mas quero lembrar que Lula sempre foi muito correto comigo.
Uma foto com Lula poderia favorecer a presidente?
DUHALDE: Pode ajudar, claro. Mas não vou ficar zangado com Lula. Se ele ler a entrevista, só queria lembrar que ainda me deve uma saída para pescar.

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